De Tília a Sabrina Carpenter: Estrelas da nova geração buscam controle da narrativa

O cenário musical global está repleto de novos talentos, mas jovens artistas femininas enfrentam um conjunto único de desafios para estabelecer suas carreiras. Seja no Brasil, lutando contra o nepotismo e o machismo estrutural, ou nos Estados Unidos, lidando com a hipersexualização e rótulos da mídia, cantoras como Tília e Sabrina Carpenter estão ativamente buscando controlar suas próprias narrativas.

Tília: O sucesso no Brasil e a busca por mérito próprio

No Brasil, a cantora Tília, de 20 anos, desponta como um dos nomes em ascensão na cena pop e funk. Dados do Spotify apontam mais de 100 mil ouvintes mensais e cerca de 1,5 milhão de plays anuais na plataforma, com uma base de fãs concentrada em grandes capitais como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Seu sucesso também cruza fronteiras, com hits como “Some” e “Roubando a cena” sendo ouvidos em Portugal, Estados Unidos, Reino Unido e Espanha.

Filha de dois nomes gigantes da indústria, Dennis DJ e a empresária Kamilla Fialho (conhecida por lançar Anitta), Tília faz questão de reivindicar seu espaço. “Tenho muito orgulho desses números, só não gosto que tirem meu mérito. Eu estudo, trabalho… Estou batalhando para ter meu nome e é importante que saibam que 80% das coisas que faço não têm o toque dos meus pais”, reivindica a artista.

Rejeitando rótulos e abraçando o funk

A queixa de Tília é uma resposta direta às frequentes acusações de ser uma “nepo baby” (termo pejorativo para nepotismo). “As pessoas olham meu Instagram e falam: ‘Que vida perfeita, deve ter sido o pai que fez tudo’. Mas não é verdade. Meu pai é artista, ele não tem tempo. A minha mãe também tem a carreira dela”, reforça.

Com a música em seu DNA, mas focada em trilhar o próprio caminho, Tília prepara seu próximo álbum, que será totalmente dedicado ao funk. Ela antecipa que o projeto conectará diferentes BPMs (batidas por minuto) do gênero, explorando o melody, o “swingado” e o funk dos anos 2000, além de contar com muitas parcerias. O projeto está em fase de retoques finais e tem lançamento garantido para 2023.

“Ainda não posso falar tudo”: O machismo na indústria

Apesar do sucesso e do prestígio familiar, Tília relata que sua jornada não a blindou do machismo e assédio recorrentes no mercado musical. “Se eu falo uma coisa e um homem fala outra, parece que eu sou maluca. Ele é o espertão”, desabafa. “O pior é que 80% desse mercado é formado por homens, dentro e fora dos palcos, então acaba que a gente às vezes não tem muita voz e, infelizmente, eu tenho que ignorar algumas coisas”.

Questionada sobre assédio, Tília confirma lidar com “mãos bobas” e piadas disfarçadas: “É o tipo de coisa que você olha e fica desacreditada, mas você tem que abaixar a cabeça”. A artista reconhece que precisa medir suas palavras para não sofrer retaliações. Ela cita como exemplo um recente caso envolvendo mensagens de um jogador de futebol casado e famoso. “O pessoal começou a me criticar porque eu não disse o nome dele. Eu não posso dizer! Se eu digo o nome, ele pode prejudicar meu trabalho. Eu também não falo em respeito à mulher dele”.

Do outro lado do equador: Sabrina Carpenter e a imagem pública

A batalha pelo controle da própria imagem não é exclusiva do Brasil. Nos Estados Unidos, a estrela pop Sabrina Carpenter, de 26 anos, usou sua recente participação como apresentadora e atração musical no programa “Saturday Night Live” (SNL) para confrontar diretamente as percepções sobre sua persona pública. O alvo principal foi a polêmica capa de seu álbum “Man’s Best Friend”, que a mostra de quatro enquanto uma pessoa não identificada puxa seu cabelo.

O humor como ferramenta de desconstrução

Durante seu monólogo de abertura no sábado (18 de outubro), Carpenter abordou a controvérsia com sarcasmo. “Algumas pessoas surtaram um pouco com a capa. Não sei por quê. É só isso”, disse, antes de mostrar a imagem “completa” no telão. “O que as pessoas não percebem é como eles cortaram”, brincou, revelando uma foto editada onde Bowen Yang (membro do elenco do SNL) a ajudava a levantar pelo cabelo após Martin Short (comediante) supostamente tê-la empurrado da fila do buffet.

Carpenter continuou, “esclarecendo equívocos” sobre sua imagem: “Todo mundo pensa em mim como essa estrela pop ‘fogosa’ (horndog), mas há muito mais em mim. Não sou apenas fogosa. Também estou excitada (turned on) e com carga sexual (sexually charged). E adoro ler”.

A “prisão” no palco e a subversão da narrativa

Mantendo o tom provocativo, a cantora tentou iniciar uma tradição de seus shows: “prender” alguém “gato” (hot) da plateia. Antes que pudesse, o veterano do SNL, Kenan Thompson, invadiu o palco e a prendeu com algemas rosa felpudas. “Por ser gostosa?”, perguntou Carpenter. “Não”, respondeu Thompson. “Por se passar falsamente por uma policial 200 vezes em seus shows”. O episódio, que também incluiu performances das músicas “Manchild” e “Nobody’s Son”, mostrou a estratégia de Carpenter: usar o humor para subverter e tomar posse da narrativa provocante construída ao seu redor.

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